domingo, 7 de novembro de 2010

Minha opinião sobre o teatro acreano

Alguns teatros também alienam. 

Temos uma história de teatro que muito me fascina. Ouvir as histórias de como a arte movimentava a cidade nas décadas de 70, 80 e 90 me faz pensar o nosso papel como artista nos dias de hoje. Sinto que fazemos um teatro comportado. Somos artistas que não são movidos pela inquietação. Isso me preocupa. Por que a inquietação sempre andou ao lado das manifestações artísticas. Não precisamos ir muito longe para perceber isso. As montagens das décadas citadas acima aqui em Rio Branco confirmam essa afirmação. Pelo menos o que se fala delas. 

Vejo nos espetáculos - dos grupos contados a dedo que realmente produzem algo - pouco ou quase nenhuma inquietação. Não consigo enxergar uma pesquisa estética ou de linguagem. Fazemos um teatro comum que não atrai o público. Uma arte inofensiva feita para as camadas médias da população. 

Assisto peças que não dialogam com a própria população acreana. Ou dialogam com uma muito pequena parte. Como diz Federico Garcia Lorca, em um de seus textos sobre teatro, quando o público não se vê retratado fica frustrado. “O público virgem, o público ingênuo, que é o povo, não compreende por que se fala no teatro de problemas desprezados por eles nos pátios de sua vizinhaça.” 

Quando se fala assim, as pessoas criam uma ideia equivocada de que estamos falando : - Tem-se que falar dos seringueiros, da borracha, do Chico Mendes e da mata. Criou-se uma conceito errado de como nós – acreanos - mesmos nos vemos. E, nós artistas parecemos não saber trabalhar com isso. Nem sei se tentamos. Como nós fazedores de teatro refletimos nós mesmo como cidadãos? Será que ao assistirem nossos espetáculos o público se vê? Será que o tocamos? Ou somos apenas responsáveis por algumas risadas? De que maneira trabalhamos as nossas condições estéticas a fim de melhorar nossa comunicação com a platéia? Quais critérios usamos para escolher os temas, o títulos, o próprio enredo do trabalho? Pensamos em quem? Em nós? Queremos o quê com mais uma montagem? De que maneiras contribuímos para a formação de um patrimônio cultural acreano se falamos de coisas tão universais sem olharmos para o lado? Ou, o que é pior, para quem nos assiste? 

O nosso teatro parece não pensar nas pessoas. É um teatro que não busca a humanização. Que se fale da florestania, mas se fale de forma humanizada. Qualquer tema precisa da humanização. Afinal esse é o trabalho do ator, do diretor, não é? Humanizar desde o mais perverso vilão ao mais bobo e feliz palhaço. De que forma trabalhamos a humanização dos nossos personagens. Vejo espetáculos cujos as histórias acontecem com pessoas que mais parecem robôs. Há muito não me vejo, nem me identifico com as peças daqui, feitas por nós. 

Fazemos um teatro quadrado, que tem medo de sair dos padrões. De ganhar as ruas. O que fazemos mais se aproxima do comercial do que de qualquer outra coisa. Não quero entrar no mérito das dificuldades financeiras. O nosso problema não é esse. Esse é um problema que vem depois de termos artistas de verdade. Artistas preocupados, com inquietude suficiente para mudar suas linguagens. Pensar em um público critico que não quer apenas rir mas se vê refletido. 

Tenho alguns medos. Um é a preocupação que se tem em fazer algo comercial. Sobre isso muito me entristece as amarras que são impostas por esse nome: comercial. Não se vive de teatro, vive-se para o teatro. De mercado nossas salas de espetáculos estão cheias. Atores globais descobriram o custo amazônico. Temos que ser a saída para isso. Outra coisa é o fato de pensar que casa cheia é sinal de bom trabalho. Eu sou jovem, talvez não saiba o que é um bom trabalho teatral ainda. Mas tive experiências na minha vida como platéia que guardo como pontos importantes de aprendizado e autoconhecimento. Infelizmente, apenas uma vez, tive essa experiência com uma peça local. Há algum tempo. 

E isso, eu tenho certeza que é como deve se sentir uma plateia de teatro. Tenho minhas dúvidas se nós como atores, diretores e produtores - ou tudo ao mesmo tempo - consigamos fazer isso com uma sociedade cada vez menos crítica e mais fácil de se contentar que é essa em que vivemos. Se vamos ter inquietação para ir contra a corrente do “quadrado” e levarmos a plateia para o nirvana do autoconhecimento eu não sei. Mas poderíamos pelo menos tentar. 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Retratos Roubados


Estava assistindo a peça Hygiene do Grupo XIX de Teatro na Gameleira. De repente me cutucam o ombro. Ao virar-me, "clique!". Depois só o sorriso da Talitinha Oliveira: - Roubei seu retrato. E agora ela está me devolvendo. Obrigado.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Poesia e prosa

Pode-se escrever em prosa ou em verso.
Quando se escreve em prosa, a gente enche a linha do caderno até o fim, antes de passar para outra linha.
E assim por diante até o fim da página.
Em poesia  não:  a gente muda de linha antes do fim,
deixando um espaço em branco antes de ir para a linha seguinte.
Essas linhas incompletas se chamam versos.
Acho que o espaço em branco é para o leitor poder ficar pensando.
Pensando bem no que o poeta acabou de dizer.
Algumas vezes, lendo um verso, a gente tem de voltar aos versos de trás para entender melhor o que ele quer dizer. Principalmente quando há uma rima, isto é, uma palavra com o mesmo som de outra lida há pouco.
Então a gente vai procurá-la para ver se é isso mesmo.
A prosa é como o trem, vai sempre em frente.
A poesia é como o pêndulo dos relógios de parede de antigamente, que ficava balançando de um lado para o outro.
Embora balançasse sempre no mesmo lugar, o pêndulo não marcava sempre a mesma hora.
Avançava de minuto a minuto, registrando a passagem das horas: 1,2,3, até 12.
Também a poesia vai marcando, na passagem da vida, cada minuto importante dela.
De tanto ir e vir de um verso a outro, de uma rima a outra, a gente acaba decorando um poema e guardando-o na memória.
E quando vê acontecer alguma coisa parecida com um poema que já leu, a gente logo se recorda dele.
Geralmente, a prosa entra por um ouvido e sai pelo outro.
A poesia, não: entra pelo ouvido e fica no coração.

José Paulo Paes

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pics of a Trip



Buenos Aires
Casa Rosada
Café Tortoni



Tango de Rua

Palermo

Literatura e Música






Cidade com trilha sonora



Puerto Madero

Obelisco

Circo Florida

Adicionar legenda
Rodrigo :)









O bom de viajar é sempre se perder um pouco.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Texto sem graça e verdadeiro

Aqui não se encontra qualidade literária

Tenho uma grande dificuldade de me desfazer.Meu quarto é um entulho de coisas que não mais têm valor, porém guardo-as com um sentimento de posse incontrolável.
Assim também é meu coração.
Não compreendo que algumas coisas não se sustentem mais com a força de antes. E fico amargando. Criando motivos, e cobranças que deixaram de ter razão.
É esse o grande resumo do meu ano. A dificuldade de me desfazer.

Me prendo ao passado de forma quase doentia. Confundo orgulho com compreensão. É uma sentimento antigo, que alimentei ainda na infância. Lembro-me da vontade de guardar tudo para que um dia eu pudesse reviver aquele momento de novo. Desde os brinquedos aos cds da adolescência.
Hoje vejo que os sentimentos guardados não surgem do mesmo jeito.

Nesse quarto cheio de coisas antigas que é meu coração, me encontro só. Inesgotavelmente só.
Você usou as palavras certas. Caminhamos bem um sem o outro.

Essas palavras uniram-se a algumas bocas caladas. E me fizeram compreender que de entulhos um coração não pode pulsar feliz.

Enquanto reluto, explico ao peito que gavetas vazias não sinalizam solidão.
Gavetas vazias são a liberdade.
Ao entulho, só um Adeus.

Afinal, nossas vidas estão ótimas desse jeito mesmo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Parafraseando Drummond


Tenho uma página em branco, e todo "o sentimento do mundo".  Estou com muita coisa engasgada que não consigo escrever. Ontem quando voltava para casa, o pensamento me ajudava a formular um texto cujo o título se chamaria Um Texto Bem Triste. Não consegui escrevê-lo. A família me poupou o exercício da melancolia.



domingo, 19 de setembro de 2010

Motivo!

-Por que você tá indo?
-Para me apaixonar!

...

- Infantil né? Eu sei...

sábado, 11 de setembro de 2010

Buenos Aires

Perdona mi poco español, pero no hay otra forma de describir Buenos Aires.
Llegué aquí el martes y me encontré con Buenos Aires el miércoles. Buenos Aires es romántico, pero no entiende romance.

Tiene ojos azules y camina con torpeza. Es encantador. El jueves es carioca y tiene ojos que queman las retinas detrás de esos rostros que encaram. En la
viernes volta para ser torpe y encantador, pero decepcionó. Parece no entender, y no entienden.
Es como un bailarín de tango que se pasa los zapatos caros en las aceras del centro desgarrado.
Buenos cherosa pero apesta.
Y tiene un sonido de los verdaderos artistas. El sonido de películas inexistentes. Está hecho de enamorarse pero no amor.


Quiero volver un hasta aquí.


é feita para se apaixonar mas não apaixona. 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A bunda que engraçada


A bunda, que engraçada. 
Está sempre sorrindo, nunca é trágica. 

Não lhe importa o que vai 
pela frente do corpo. A bunda basta-se. 
Existe algo mais? Talvez os seios. 
Ora – murmura a bunda – esses garotos 
ainda lhes falta muito que estudar. 

A bunda são duas luas gêmeas 
em rotundo meneio. Anda por si 
na cadência mimosa, no milagre 
de ser duas em uma, plenamente. 

A bunda se diverte 
por conta própria. E ama. 
Na cama agita-se. Montanhas 
avolumam-se, descem. Ondas batendo 
numa praia infinita. 

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz 
na carícia de ser e balançar. 
Esferas harmoniosas sobre o caos. 

A bunda é a bunda,
redunda.


              Carlos Drummond de Andrade 

terça-feira, 17 de agosto de 2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O mês começa com marte e saturno unidos em libra, o que pode ser um pouco difícil para você. Uma fase onde seus valores e suas escolhas são trazidos todos à tona para reavaliação e inicio de encerramento de uma longa fase que já dura 28 anos. Um ciclo se fecha e outro em seguida começa a se abrir. É possível que esteja enfrentando algum tipo de problema de saúde. Caso isso esteja acontecendo esteja certo que os desequilíbrios dessa ordem que porventura vier a sofrer são de origem psicossomática, ou seja, dificuldades emocionais e psicológicas estão desencadeando seus problemas. Esta é uma fase ótima para procurar ajuda terapêutica e se dedicar a um tratamento psicológico profundo. Se você tem menos de 28 anos, esta fase certamente teve inicio em sua ultima vida e termina daqui aproximadamente dois anos. Escorpiões são seres muito profundos, portanto, pense seriamente em começar a vasculhar seu inconsciente. O trabalho também passa por uma serie de mudanças que já deve ter começado há pouco mais de um mês. Mantenha os olhos abertos e dê os passos necessários em direção a elas. Um bom programa de exercícios e de saúde deve ser estabelecido nesta fase, pois há necessidade de deixar para trás hábitos nocivos à sua saúde. Urano começou seu movimento retrogrado e é possível que um amor do passado volte a fazer parte de sua rotina ou de seus pensamentos. Caso isso aconteça não tome nenhuma decisão. Peça um tempo para pensar se for necessário, mas não assuma nenhum compromisso fechado por enquanto. Você pode querer voltar atrás em pouco tempo. Avalie bem e depois do dia 19 você poderá ter mais claros os seus sentimentos. Caso esteja passando por problemas de saúde, ela pode melhorar consideravelmente depois desse dia. Até o dia 22 deste mês sua carreira e vida profissional passam por um ótimo período visibilidade e sucesso em projetos iniciados em um passado recente começam a dar alguns frutos. Sua imagem passa por uma fase de respeito e maior consideração. Sua energia anda muito baixa e você tem estado muito cansado. Procure se dedicar à pratica da meditação ou ao aprendizado de técnicas sobre poder mental. Isso pode mudar muita coisa.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Há sempre algo de ridículo nas emoções de quem já não se ama

"O motivo por que tanto gostamos de pensar bem dos outros é que todos nós temos medo de nós mesmos. A base do otimismo é terror puro. Pensamos que somos generosos, pois creditamos ao próximo a posse das virtudes propensas a nos beneficiar.  Enaltecemos o banqueiro para que possamos sacar a descoberto, e descobrimos boas qualidades no salteador de estradas na esperança de que nos poupe os bolsos. (...) Tenho o maior desprezo pelo otimismo. E, quanto a estragar vidas, a única que  se estraga é aquela da qual se apreende a evolução. Se desejamos arruinar uma índole, basta que a reformemos."
Lorde Henry, O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde 



(...) Tudo que podemos usar na ficção são as coisas que, na realidade, deixaram de ser usadas.
O Retrata de Dorian Gray, Oscar Wilde

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Felicidade




E para quebrar estado de espírito desse blog, venho dizer que estou feliz. Com uma vontade incansável de que o tempo corra, mas feliz. Nada muito grande nem extraordinário.Uma felicidade simples, calma, meio sonhadora.

Uma felicidade bem mulherzinha dona de casa que se satisfaz enclausurada na sua rotina monótona, de afazeres domésticos, fechada em pequenos sonhos. Sem muitos pensamentos na cabeça. sem vontade de ser Clarice Lispector ou Simone de Beauvoir. Apenas mulher. Simples, e jovem demais para pensar ser mãe. Fechada em um vestidinho envelope de bolinhas vermelhas, minha felicidade é uma mulher casada.

E gosto dela assim, é bem insegura como qualquer mulher e, por isso, mais palpável. 




sábado, 26 de junho de 2010

Romantismo





Eu tenho um amigo que sempre me liga pedindo conselhos e  inexplicavelmente, no final da conversar, é ele quem acaba me dando os melhores conselhos.

As fotos acima deveriam contar uma história - são para um trabalho de fotografia - e foram frutos de uma tarde agradabilíssima com uma amiga. São várias. Depois posto mais.  


quinta-feira, 10 de junho de 2010

Seminário Particular

Conheci hoje uma dor em mim que não imaginava guardar no peito. Dor essa que me fez saltar da cama e sacudir a poeira impregnada neste blog.
Hoje me senti pela primeira vez como um gay. Senti-me desamparado frente a algumas palavras de insulto que não são um insulto. Mas a raiva estampada nelas transformaria as mais belas palavras em dor. Em dor alheia. Nessa dor de agora.
Preparava-me para um seminário sobre homofobia -  vejam só – e por alguma razão eu me sentia incansavelmente despreparado, mesmo tendo o assunto em mãos. Uma das minhas preocupações era transformar a minha fala em um desabafo. Não queria isso, não podia fazer isso, não era o meu papel.  Devia me concentrar nos dados fundamentados; nas estatísticas cientificamente provadas.  Mas não deu, Professora.
Enquanto ensaiava junto aos meus amigos o teatro dos seminários, uma colega papeava na roda dos atores inseguros. Primeiro um pedido amigável proferido pela boca ao lado:  silêncio, por favor. Até que a insistência da moça me tirou um cala boca da garganta. À nossa relação já competia certas intimidades. Um cala boca era comum entre nós e o meu não carregava raiva mesmo nervoso na coxia prestes a estrear mais um espetáculo, no qual o personagem ainda era um enigma.
A moça virou os olhos pra mim e como se soletrasse para que eu entendesse bem a mensagem proferiu: CALA A BOCA VOCÊ, VEADO!
Seus olhos esbugalhavam aversão.
Fiquei calado, sentido a dor do olhar. SÍ-LA-BA  POR SÍ-LA-BA.  Uma amiga ao lado retrucou, acho que com os ideais do assunto estudado ainda na cabeça: preconceituosa.
“Sou mesmo" - e olhando no meu olho, como quem revela angústias passadas, ela continuou - "Sabia não?”
Da minha dor no peito, saíram também palavras: MALAMADA!
Da sua raiva continuaram a sair: "Sou Mulher, muito mais fácil de ser amada! Diferente de você!"
Agora reescrevendo o ocorrido percebo quão enganada está essa garota.  Os meu amores são incríveis. Só eu sei dos amores que sinto, da mesma forma que só eu sei das dores também.
“Você é opaca. Você foi opaca.”
O resultado. Eu não consegui, Professora. Apenas fundamentei os dados estudados em uma confissão.  Uma confissão minha, particular, dolorida.  O teórico ali era eu. Não apresentei um trabalho, eu me apresentei. A preocupação por força do peito se concretizou. O ator deixou o personagem escapar e ficou nu quando deveria estar vestido.
Professora, me desculpe.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

domingo, 21 de março de 2010

Reescrevo o que gosto, letra por letra; na esperança de que meus dedos se acostumem com a beleza das palavras alheias.

Rainha Gertrudes (sobre a morte de Ofélia) :

Há um salgueiro que cresce inclinado no riacho
Refletindo suas folhas de prata no espelho das águas;
Ela foi até lá com estranhas grinaldas
De botões-de-ouro, urtigas, margaridas,
E compridas orquídeas encarnadas,
Que nossas castas donzelas  chamam dedos-de-defunto,
E a que os pastores, vulgares, dão nome mais grosseiro.
Quando ela tentava subir nos galhos inclinados,
Para aí pendurar as coroas de flores,
Um ramo invejoso se quebrou;
Ela e seus troféus floridos, ambos,
Despencaram juntos no arroio soluçante.
Suas roupas inflaram e, como sereia,
A mantiveram boiando um certo tempo;
Enquanto isso ela cantava fragmentos de velhas canções,
Inconscientes da própria desgraça
Como criatura nativa desse meio,
Criada para viver nesse elemento.
Mas não demoraria pra que suas roupas
Pesadas pela água que a encharcava,
Arrastassem a infortunada do seu canto sauve
À morte lamacenta.


Ato 4, Cena 7, Hamelt, William Shakespeare.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Eu e Laurinha!


























Ganhei o presente de atravessar os rio quase todos os dias. Grato!

Foto Val Fernandes, que me acompanha na travessia :)

Meu Solilóquio

O tempo tem passado, mas a paixão ainda é ferida. Ganhou agora uma dor fina e pálida, mesmo que ainda incessante. Que culpa tenho eu se a vida  fez de mim um garoto que trabalha a razão em lado oposto ao peito?

Sei que continuar é sofrer, mas que fazer se meu peito desabrocha em rosas todas  que me recordo sem querer.É como essas chuvas que vêm caindo por aqui. Olhamos o céu, e o sol nos engana brilhante e quente lá em cima. Ao abrirmos os olhos no segundo seguinte nascem as gotas trazendo esse pranto sereno e forte que eu pensava existir só no fundo das minhas retinas.

Um Abrir de Janelas

Hoje a Biblioteca abriu suas janelas. O dia amanheceu bem disposto de um vento frio e cálido. Por isso, resolveram os coordenadores renunciar ao ar condicionado, e deixar que a brisa do dia novo climatizasse o espaço dos livros e de seus leitores.
As janelas abertas trouxeram do verde das praças os pássaros.  Varavam o ar pelas janelas e entravam sutis. Mas depois de um tempo já estavam fazendo ninho entre Shakespeare e Vinicius de Moraes; e alguns leitores já não mais conseguiam desperceber o eco que o canto dos vários espécimes entoava. Coroando o saguão, o som tinha a amplitude dos sinos de igrejas, mas não faziam doer os ouvidos e nem o juízo. Era um canto alegre e amanhecedor.
Em pouco tempo, os interesses de todos já não eram mais os livros e suas estórias, mas sim os pássaros e  seus  cantos. Enquanto isso, eu que já havia percebido e me encantado a tempo com aquela invasão mágica, percebi um movimento gracioso de calcanhares entre as primeiras prateleiras em que eu me encontrava.
Atento, encontrei, além de mais pássaros e ninhos, duas pessoas se segurando pelas mãos. Buscavam algo que na hora eu não compreenderia. Na frente ia uma menina, a qual parecia pertencer toda a decisão da busca. E quase pisando nos calcanhares da frente, um menino que parecia tão surpreendido com a caminhada, como os outros com os passarinhos.
O passo apressava-se, e cada prateleira deixada para trás era um adeus que davam ao mundo. E me escondendo no canto dos pássaros, que ecoava cada vez mais forte e tenso como passos à procura de sossêgo, eu os vi parar.
E pararam na última estante onde só poderiam ser vistos por livros e por mim, que os via atrás dos livros de Ornitologia.  Pararam e, logo, se encostaram num desejo invejável de paixão impossível.  Os lábios se tocaram, e foi aí que eu vi literatura nos lábios alheios. Aquele beijo, entre tantos livros, me encheu de uma poesia única e imensa. Senti Federico Garcia Lorca dentro de mim. Antonio Maria pulsar nas minhas veias apaixonadas.  As palavras do Gabriel Garcia Marquez nunca fizeram tanto sentido. Vinicius estava nas minhas mãos. E as letras do Chico Buarque passavam por meus olhos contando com palavras aquela estória que eu via na minha frente.
Sim, amigos, eu vi literatura nos lábios alheios.  Estarrecido, o beijo foi andando de volta. E eu continuei no cenário daquela ilusão que nunca me pareceu tão verdadeira.  Aquele momento tomou-me durante todo o dia. E muita vezes me perguntei se os pássaros conspiraram para que aquele mar de palavras em forma  de amor se materializasse  à minha frente. Ou se teriam os amantes armado a visita dos pássaros, espalhando alpiste nas estantes, para despistar a atenção da burocracia arcaica que proíbe o beijo entre os livros, e eu apenas como um intruso de aventura alheia,  tivesse encontrado literatura onde não haveria de ter. Não sei dizer mais. Não sei pensar muita coisa agora. Não sei quem são. E nem me lembraria a face se os visse de novo.
Só sei que aquele romance visto hoje de manhã não me abandonou a retina. E ao chegar em casa corri à minha estante e tentei reviver tudo nos livros que tanto guardo. Tentativa infundada. As palavras, sim, eu compreendia melhor. Mas aquela efusão, aquela sensação, parece ter virado ninho, e ido embora pela praça com o fechar das janelas.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Sou um pobre garoto apaixonado e silencioso que, quase como o maravilhoso Verlaine, tenho dentro uma açucena impossível de regar e apresento aos olhos bobos dos que me olham uma rosa muito encarnada, que não é bem a verdade do meu coração"

FEDERICO GARCÍA LORCA

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010






"Não, não fuja não Finja que agora eu era o seu brinquedo
    Eu era o seu pião o seu bicho preferido
Vem, me dê a mão A gente agora já não tinha medo
       No tempo da maldade Acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal Que o faz-de-conta terminasse assim
  Pra lá deste quintal Era uma noite que não tem mais fim
    Pois você sumiu no mundo Sem me avisar
           E agora eu era um louco a perguntar O que é que a vida vai fazer de mim"











João e Maria.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Essa casa não precisa de mais choros.

A casa por muito tempo tinha sido inundada de lágrimas. Eram lágrimas cristalinas, iguais às águas doce-claras. Não pareciam ser de dor, mas eram. De onde viam, ou porque emanava tal qual cachoeira, ninguém saberia responder. Nem os olhos de onde caem. Corriam boatos de que vinham da família que há muito habitava aquela casa. O que eu particularmente não acredito, é triste imaginar uma família de choradeiras, as quais não parassem nunca. E não é possível que em um momento um membro não se secasse de lágrimas, e exigisse: Essa casa não carece de mais choros!
Afinal, a família vivia bem. E segundo me disseram, eram apenas dois meninos, um pai, uma mãe, e um vó, mas esse passava mais tempo na alegria das casas alheias, não convém então considerá-lo parte da família. Pronto, quatro corações e muitas lagrimas. Dizem também, que os problemas eram diversos. Os pais tinham os pulsantes fracos. Dos filhos, o menor saíra chorando do ventre materno e parece não ter aprendido outra coisa no mundo. O maior parecia sempre sofrer. De tédio, de medo, ou de pensamentos, e principalmente de amores. Era um sofredor.
E chorava, chorava feito gente grande.


A casa era assim um oceano dos mais translúcidos. E poucos ousaram adenadar naquela casa. Eu tentei, e tento até hoje, por isso tenho minhas dúvidas sobre tamanho sofrimento. Toda vez que cruzo o quintal a porta principal me está sempre fechada. Bato, corro para as janelas. Até quebrar o vidro eu já tentei, mas nada me põe lá dentro. Nem o meu choro aqui fora.

sábado, 30 de janeiro de 2010

"Eu era um jovem louro e saudável quando adentrei a baia de Guanabara, errei pelas ruas do Rio de janeiro e conheci Teresa. Ao ouvir cantar Teresa, caí de amores pelo seu idioma, e após três meses embatucado, senti que tinha a história do alemão na ponta dos dedos, a escrita me saia espontânea, num ritmo que não era o meu, e foi na batata da perna de Teresa que escrevi as primeiras palavras na língua nativa. No principio ela até gostou, ficou lisonjeada quando eu lhe disse que estava escrevendo um livro nela. Depois deu para ter ciúme, deu para me recusar seu corpo, disse que só a procurava a fim de escrever nela, e o livro já ia pelo sétimo capítulo quando ela me abandonou. Sem ela, perdi o fio do novelo, voltei ao prefácio, meu conhecimento da língua regrediu, pensei até em larga tudo e ir embora para Hamburgo. Passava os dias catatônicos diante de uma folha de papel em branco, eu tinha me viciado em Teresa. Experimentei escrever alguma coisa em mim mesmo, mas não era tão bom, então fui a Copacabana procurar as putas. Pagava para escrever nelas e talvez lhes pagasse além do devido, pois elas simulavam orgasmos que me roubavam toda a concentração.  Toquei na casa de Teresa, estava casada, chorei, ela me deu a mão, permitiu que eu escrevesse umas breves palavras enquanto o marido não vinha. Passei a assediar as estudantes, que às vezes me deixavam escrever em suas blusas, depois na dobra do braço, onde sentiam cócegas, depois na saia, nas coxas. E elas mostravam esses escritos às colegas, que muito os apreciavam e subiam ao meu apartamento e me pediam que escrevesse o livro na cara delas, no pescoço, depois despiam a blusa, me ofereciam os seios, as barrigas e as costas. E davam a ler meus escritos a novas colegas que subiam ao meu apartamento, imploravam para arrancar suas calcinhas, e o negro das minhas letras reluzia em suas nádegas rosadas.  Moças entravam e saiam da minha vida e meu livro se dispersava por aí, cada capítulo a voar para um lado. Foi quando apareceu aquela que se deitou em minha cama e meu ensinou a escrever de trás para adiante. Zelosa dos meus escritos, só ela os sabia ler, mirando-se no espelho, e de noite apagava o que de dia fora escrito, para que eu jamais cessasse de escrever meu livro nela. E engravidou de mim, e na sua barriga o livro foi ganhando novas formas, e foram dias e noites sem pausa, sem comer um sanduiche, trancado no quartinho da agência, até que eu cunhasse, no limite das forças, a frase final: E a mulher amada, cujo leite eu já sorvera, me fez beber da água com que havia lavado a sua blusa."


Budapeste, romance de Chico Buarque 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

- Ah, não. Não mente pra mim. Não jure aquilo que meu coração tanto quer ouvir. Seja sincero, acabe com as minha esperanças. Não, não importa, eu não tenho coração. Só não me engana, não me faz imaginar que poderia ser. Eu não quero, porra! Por favor, fala a verdade. Acaba comigo. Me faz sentir raiva de você.
Diz que tudo aquilo foi em vão, que você me usou, e que eu fui só uma coisa de verão. uma coisa do seu verão, mas não me dê esperança. Não me dê motivos pra te esperar, por favor. Diz. Eu quero ouvir você falando. Não me deixa só. Não me deixa imaginar que poderia ter sido. Acaba de uma vez com essas esperanças. Eu to te pedindo por favor. Eu quero chorar tudo em uma noite, e respirar minha vida de volta amanhã. Vai, diz, acaba. Mas não me deixa ansioso, não me deixa esperando. Não me faz te esperar, impacientar a tua demora.
Não me jura essa felicidade.

É demais pra mim.

Merda!






como eu me apaixono fácil!