domingo, 15 de maio de 2011

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Aqui onde os prédios colocam o céu em corredor os sentimentos escapam ao controle dos dedos. É capaz de sentir-se indiscutivelmente alegre à tarde e ao entardecer ser tomado por dores florais que alugam o estômago por temporadas indefinidas. À noite volta-se a ser feliz. E de manhã vem outra sensação, da qual a definição não se sabe, mas traz saudade. Felicidade. Tristeza. Alternando. Um choque térmico na alma. Mas a felicidade vem sempre nos calcanhares da saudade. Nunca depois da tristeza. Fica-se bem, mas existe uma saudade de ser feliz.










Nos prédios antigos do Centro de São Paulo

terça-feira, 10 de maio de 2011

MAR



MEU CORAÇÃO é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...

No movimento ( eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?...

Álvaro de Campos.  F.P. e Artur Mattar

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ganhar Doces aos Poucos

                                                                                       Sim, sem dúvida é histórico. A união estável guei, legislativamente falando, agora é possível no Brasil. Com ele todas as vantagens burocráticas como herança, adoção e, nada mais justo, o divórcio.  Não vejo muito além. Sou jovem. Casar não me passa pela cabeça nesse estágio, por isso não sinto a vibração que, tenho certeza, pulsa no peito de muitos. Mas sinto-me contemplado pela alegria alheia, que de alguma forma (direta, futura) também contemplará meu peito.
       Porém, as dificuldades não param por aí. A abertura desses direitos abre também sentimentos enrustidos em peito alheio, peito que por felicidade reprimida, reprimi, oprime, mata. Vivemos uma vitória e temos que nos preparar para as consequências. O mundo não muda hoje. Data histórica. É um processo. É todo dia, como diz um amigo. Todo dia é uma militância ser quem você é por direito de nascer assim.
        
     O exercício contínuo de ver beleza na sua força para encarar todo dia o olhar de lado, a fala de deboche, o não poder beijar na rua, o medo. Casamentos já aconteciam sem precisar de leis.  Teremos também que esperar a homofobia parar de acontecer, “passar” para tê-la proibida em letras oficiais. Vai demorar! Muita gente vai sofrer. Tudo bem! Não vamos parecer os insatisfeitos! Os insaciáveis!  Escrevo para compartilhar a felicidade de ganhar doces aos poucos. Primeiro uma bala para as crianças da rua, coitadas, um dia talvez um bolo inteiro.... 


Golpe do Baú....