domingo, 7 de novembro de 2010

Minha opinião sobre o teatro acreano

Alguns teatros também alienam. 

Temos uma história de teatro que muito me fascina. Ouvir as histórias de como a arte movimentava a cidade nas décadas de 70, 80 e 90 me faz pensar o nosso papel como artista nos dias de hoje. Sinto que fazemos um teatro comportado. Somos artistas que não são movidos pela inquietação. Isso me preocupa. Por que a inquietação sempre andou ao lado das manifestações artísticas. Não precisamos ir muito longe para perceber isso. As montagens das décadas citadas acima aqui em Rio Branco confirmam essa afirmação. Pelo menos o que se fala delas. 

Vejo nos espetáculos - dos grupos contados a dedo que realmente produzem algo - pouco ou quase nenhuma inquietação. Não consigo enxergar uma pesquisa estética ou de linguagem. Fazemos um teatro comum que não atrai o público. Uma arte inofensiva feita para as camadas médias da população. 

Assisto peças que não dialogam com a própria população acreana. Ou dialogam com uma muito pequena parte. Como diz Federico Garcia Lorca, em um de seus textos sobre teatro, quando o público não se vê retratado fica frustrado. “O público virgem, o público ingênuo, que é o povo, não compreende por que se fala no teatro de problemas desprezados por eles nos pátios de sua vizinhaça.” 

Quando se fala assim, as pessoas criam uma ideia equivocada de que estamos falando : - Tem-se que falar dos seringueiros, da borracha, do Chico Mendes e da mata. Criou-se uma conceito errado de como nós – acreanos - mesmos nos vemos. E, nós artistas parecemos não saber trabalhar com isso. Nem sei se tentamos. Como nós fazedores de teatro refletimos nós mesmo como cidadãos? Será que ao assistirem nossos espetáculos o público se vê? Será que o tocamos? Ou somos apenas responsáveis por algumas risadas? De que maneira trabalhamos as nossas condições estéticas a fim de melhorar nossa comunicação com a platéia? Quais critérios usamos para escolher os temas, o títulos, o próprio enredo do trabalho? Pensamos em quem? Em nós? Queremos o quê com mais uma montagem? De que maneiras contribuímos para a formação de um patrimônio cultural acreano se falamos de coisas tão universais sem olharmos para o lado? Ou, o que é pior, para quem nos assiste? 

O nosso teatro parece não pensar nas pessoas. É um teatro que não busca a humanização. Que se fale da florestania, mas se fale de forma humanizada. Qualquer tema precisa da humanização. Afinal esse é o trabalho do ator, do diretor, não é? Humanizar desde o mais perverso vilão ao mais bobo e feliz palhaço. De que forma trabalhamos a humanização dos nossos personagens. Vejo espetáculos cujos as histórias acontecem com pessoas que mais parecem robôs. Há muito não me vejo, nem me identifico com as peças daqui, feitas por nós. 

Fazemos um teatro quadrado, que tem medo de sair dos padrões. De ganhar as ruas. O que fazemos mais se aproxima do comercial do que de qualquer outra coisa. Não quero entrar no mérito das dificuldades financeiras. O nosso problema não é esse. Esse é um problema que vem depois de termos artistas de verdade. Artistas preocupados, com inquietude suficiente para mudar suas linguagens. Pensar em um público critico que não quer apenas rir mas se vê refletido. 

Tenho alguns medos. Um é a preocupação que se tem em fazer algo comercial. Sobre isso muito me entristece as amarras que são impostas por esse nome: comercial. Não se vive de teatro, vive-se para o teatro. De mercado nossas salas de espetáculos estão cheias. Atores globais descobriram o custo amazônico. Temos que ser a saída para isso. Outra coisa é o fato de pensar que casa cheia é sinal de bom trabalho. Eu sou jovem, talvez não saiba o que é um bom trabalho teatral ainda. Mas tive experiências na minha vida como platéia que guardo como pontos importantes de aprendizado e autoconhecimento. Infelizmente, apenas uma vez, tive essa experiência com uma peça local. Há algum tempo. 

E isso, eu tenho certeza que é como deve se sentir uma plateia de teatro. Tenho minhas dúvidas se nós como atores, diretores e produtores - ou tudo ao mesmo tempo - consigamos fazer isso com uma sociedade cada vez menos crítica e mais fácil de se contentar que é essa em que vivemos. Se vamos ter inquietação para ir contra a corrente do “quadrado” e levarmos a plateia para o nirvana do autoconhecimento eu não sei. Mas poderíamos pelo menos tentar.