quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Albúm de Viagem: Mosteiro de São Francisco


Tenho uma tia "torta" maravilhosa.
Torta porque é mulher de meu tio/padrinho. É minha Tia Côca. Na verdade, tenho tias maravilhosas.  
Hoje fomos ao Centro Histórico de João Pessoa, um lugar lindo, cheio de historias, como a da Igreja de São Francisco com seu calabouço que corta a cidade inteira pelo subterrâneo, usado para fugir das guerras.
Também a história do velhinho que ajudou a descobrir obras de artes escondidas nas paredes, após uma visita a uma antiga casa que estava sendo revitalizada, e que hoje é A Casa do Azulejos, onde funciona a Secretaria de Cultura. Ele deixou seu numero de telefone, endereço e nome, com a secretária de cultura caso quisessem mais ajuda. Descoberta as obras de arte e prontas para a inauguração da casa dos azulejos, os arquitetos foram atrás do senhor e descobriram que ele já havia morrido há 30 anos. 
Acho massa, essas histórias. 



















Tia Côca :)


Eu estou começando a pensar com sotaque.
Que medo de me ouvir falando.


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Joana Antunes sempre o odiara

Sempre o odiara. Joana Antunes nunca suportou a cabeça raspada e o corpo cheio de músculos saltados que formavam Laucho Gonçalves.  Achava-o um idiota, e sentia muito que um corpo tão bonito dividisse a vida com tão pouco cérebro. Não que ele fosse burro, pensava, era preguiçoso e tentava se disfarçar de inteligente, o que piorava muito sua situação aos olhos de Joana. Enfim, dividir a sala com ele e outros tantos rapazes mais interessantes, no curso que fazia na Universidade Católica de Vila Rica, era uma coisa que suas frescuras podiam suportar.
Até o dia em que, por destino da vida acadêmica, Joana e os músculos de Laucho pararam em um mesmo grupo. Eles deviam apresentar um seminário sobre a vida social dos corais que povoavam a chafariz da prefeitura.  Aquela disciplina era das poucas que faltavam para as almejadas férias de Joana. Passou a se preparar toda, e o fato de dividir com o rapaz o grupo nem era tão relevante quanto suas férias longe da vida infundada vivida naquele fim de mundo.
Ótimo. Após dias de estudo estava confiante de sua parte. Era assim que se formavam os alunos de Vila Rica: em partes. Tudo era dividido, inclusive o dinheiro gasto com a corrupção das provas. Estava finalmente pronta, ansiosa por sua hora de entrar frente às fotos que ilustravam o desleixo da prefeitura com aqueles inusitados corais.  Começou a falar tranqüila e inteligente, despertando a inveja das companheiras, uma coisa muito comum na juventude de Joana e que não durou até o habito de apreciar o vôo dos lençóis.
Quando próximo ao fim de seu exemplo maior que faria com que todos lacrimejassem a  história do chafariz, Laucho cutucou-a  e, frente a todos, disse: Tá bom, né? Seu tempo acabou. Joana se perdera completamente. Não sabia mais cargas d’água do seu objetivo. Viu-se por um minuto sendo olhada por todos esperando uma resposta. Não conseguiu terminar sua parte. E parou ali mesmo.
Continuaram os outros com suas pesquisas, e ela, atônita, nada mais falou. O ódio daquele ser se transformou em um ódio maior. Se fosse homem tinha lhe socado o rosto na mesma hora.  Não era. Depois de o trabalho passar todo em sua frente como um filme que não damos atenção, Joana ouviu as considerações finais do professor, arrumou suas coisas e postou-se no estacionamento a esperar o odiado.
Viu-o se despedir dos amigos, e caminhar sozinho rumo ao carro. Ao colocar a chave no buraco, sentiu um respirar no lombo, virou–se; tinha na frente uma imagem amedrontadora de mulher capaz de morte. Joana aproximou-se e, rosto a rosto, disse o que tanto formulara desde que saíra da sala: Você é um burro! Corto-lhe a garganta da próxima vez que vier interferir no meu mundo. E quando estava preparando uma joelhada no precioso do rapaz, sentiu um calor e uma fraqueza que a fez desmontar. De fato, aqueles músculos tão de perto eram mais acolhedores e aquele ser bruto e burro parecia, de repente, uma coisa que nem ela saberia explicar.
Essa foi uma das muitas que Joana percebeu que seu destino na terra era o amor. O joelho já não mais o atacava, agora, o acariciava. Ele, sem entender, caiu com Joana no banco do carro, e fizeram o amor encher os vidros do veículo de suor e gozo.  O rapaz jamais entenderia como e porquê ganhara aquela noite na sua vida juvenil, apenas fez-se homem e deixou Joana fazer o resto.
Ao terminar, Joana sem nada dizer atravessou o estacionamento vazio, acomodou-se na sua lambreta e partiu na estrada, levando o barulho do radiador. Enquanto isso, no carro, o rapaz recuperava o fôlego sozinho. No dia seguinte Joana o odiaria ainda mais.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Procura-se o Antídoto

Tá tudo dando errado.
Eu to vivendo duas vidas paralelas. Parece que to com a cabeça em realidades diferentes,sabe?
Eu passo a tarde fazendo um trabalho e simplesmente esqueço de entregar.
Vou até a UFAC a tarde só para arranjar uma declaração e esqueço de pegar.
Sei lá. Meu Deus.O que será?
Gente, eu acho que vou reprovar. Em tudo. Não só na faculdade. Vou reprovar nas pessoas que tanto gosto e admiro, talvez com elas já esteja reprovado. Eu não sei. Simplesmente não sei.
Se alguém souber o remédio, por favor, me avise.
Eu queria viajar, sabe?
Conhecer Kosovo, passar um tempo lá.



Um lugar que sequer é reconhecido pelo Brasil como país (ótimo, quem é que precisa ser reconhecido pelo Brasil para ser independente), a mais nova nação do mundo. Recém-independente.



 Lá tá tendo uma revolução cultural, os caras estão atrás de uma identidade própria. Talvez lá eu consiga influenciar as pessoas a viverem com a cabeça em duas realidades diferentes, onde os professores aceitem tudo por e-mail, levando em conta a cabeça atordoada dos alunos. E as pessoas fossem menos preocupadas com os filhos e os horários para descansar.




















Além disso, lá é frio e dizem ter o melhor cappuccino do mundo.
Talvez minha temporada lá, seja a solução.

sábado, 31 de outubro de 2009

Poesia

O Tempo

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz
E passar rápido pra mim

Parece que até jantei
Com toda a família e sei
Que seu avô gosta de discutir
E sua avó gosta de ouvir
Você dizer que vai fazer

O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim


Espero o dia que vem
Pra ver se te vejo
E faço o tempo esperar como esperei
A eternidade se passar
Nos meus segundos sem você

Agora eu já nem sei
Se hoje foi anteontem
Eu me perdi lembrando o teu olhar
O meu futuro é esperar
Pelo presente de fazer

O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Distante é devagar
Perto passa bem depressa assim

Pra mim, pra mim


Se o tempo se abrir talvez
Entenda a razão de ser
De não querer sentar pra discutir
De fazer birra toda vez
Que peço ao tempo pra me ouvir

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz
E passar rápido pra mim


Eu que nunca discuti o amor
Não vejo como me render
Ah! Será que o tempo tem tempo pra amar
ou só me quer tão só?

E então, se tudo passa em branco eu vou pesar
A cor da minha angústia
e no olhar
Saber que o tempo vai ter que esperar

O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar

Que ao menos seja eterno assim

Movéis Coloniais de Acajú

domingo, 25 de outubro de 2009

Nem tudo foi do jeito que era pra ser. Não teve amor. Não teve paz. Eu imaginava uma coisa diferente, com muita luz, muita nuance, com situações estranhas nos aproximando. Ah, eu imaginava o céu bem próximo quando nos beijássemos. Imaginava o seu peito batendo perto dos meus pensamentos, enquanto descansávamos nossa felicidade no chão da sala. Lá fora podia chover, fazer sol, ventar nada importava. E eu me sentiria com uma certeza única de estar seguro. Mas isso seria o resultado, depois de termos passado por vários mal entendidos. Depois de termos brigado, sofrido, se reconciliado. Uma reconciliação única, eu imagino você chegando do trabalho cansado e triste por não estar comigo, e eu uns quarteirões atrás me remoendo por dentro enquanto fazem uma festa no meu quarto, eu sem saber o que fazer, o que esperar, sendo só insegurança e mais nada. Até que como quem bebe e cria coragem, eu saio correndo quarto a fora sem dar satisfação a ninguém, e sem ninguém se importar com meu desespero por que sabem muito bem para onde eu corro. Corto as esquinas, a brisa é forte e corta os lábios que tanto querem ser seus. Paro esbaforido frente ao seu prédio, olho a única janela que me interessa, e você está lá, como se me esperasse. E mais uma vez eu me encontro fazendo o papel desse romeiro, que tanto me persegue. Não falamos nada, por que não precisa. Ali nós dois temos a certeza de que somos um do outro, e que o mundo pode acabar, por que até aquele momento a vida já teve sentido por demais.
E depois de tudo isso passar por nossas cabeças, você iria sorrir, e eu iria morrer de paixão mais uma vez. Então você desceria as escadas para me buscar, pararia alguns segundos ao ter a certeza de que era eu mesmo ali e me abraçaria perdidamente, um gesto tão forte que acordaria algumas luzes vizinhas. Nós subiríamos os degraus sem sentir e cairíamos no chão do nosso desejo, ao fechar a porta do seu esconderijo. O depois não precisaria importar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


- Quando agente viaja, sai da nossa cidade, muda a rotina, sei lá, agente presta mais atenção no céu, não é?

- Hurrum, quando agente tá apaixonado também.

domingo, 11 de outubro de 2009

'Vai desabar água
Algodão vai,
Desabar água
Pra lavar o que tem que limpar
Pra lavar o que tem
Vai desabar água e é pro nosso bem.'




pra lavar o que tem que limpar.

sábado, 10 de outubro de 2009

O sobrevivente


Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ditadura do Sol

Vila Rica era uma cidadela comum. Não muito diferente de todas as outras do mundo, continha ruelas, um rio forte e cortante e só se diferenciava das outras por ter um sol muito próximo que fazia o asfalto evaporar e quase nenhuma brisa. Os únicos ventos conhecidos eram os que traziam as paixões. E eram esses os ventos responsáveis pelo vôo desordenado dos lençóis de Joana Antunes.

E como nem todos nascem para o amor como Joana quase nenhum vento visitava Vila Rica, de forma que era o sol quem comandava os costumes da cidade. E estava decretado há muito tempo que no horário das doze às duas da tarde era a hora do sol descer e ficar tão perto de Vila Rica que qualquer desavisado que se atrevesse a manter as portas abertas, os ventiladores desligados ou a andar pela rua aquela horário morreria vermelho e seco como madeira de cupim.

Uma prova da eficiência do calor se deu quando Josemar Luaudo, o entregador de ovos, corria desesperado para casa, pois faltavam apenas cinco minutos para a hora infernal, e sem perceber deixava na calçada uma trilha de ovos espatifados até que entrou em casa e só havia dois ovos dos cinqüenta que precisava entregar.

Quando, as duas e quinze, Josemar Luaudo saiu às ruas em busca de reparar o estrago, percebeu que os mendigos faziam a festa comendo na calçada pois os ovos haviam fritado.

sábado, 12 de setembro de 2009

Luiz Gepeto

Luiz Gepeto não conseguia ver outra mulher em sua vida que não fosse Joana Antunes, e não fazia nada para esconder nem dela nem de ninguém a efusão interior externada no suor frio das mãos que a imagem de Joana lhe causava.


Por nunca ter sido tão amada Joana aceitou e namoraram durante 2 meses e 24 dias. Só que algo perturbava aquela jovem, sentia que a qualquer hora podia bater-lhe no rosto a brisa fina da paixão de maneira que preferiu olhar fundo nos olhos intranqüilos de Luiz Gepeto e dizer-lhe que não queria mais, quando na verdade queria ter dito que se sentia perdendo tempo com alguém como ele enquanto poderia estar envolta nos braços de um outro que lhe fizesse sentir o voo dos pássaros na barriga e a efusão de anseios que eram sintomas do amor.


O rapaz que a amava de forma doentia tomou um destino triste, e fez contra a amada coisas com o coração amargurado que se fazem melhor longe desta história. Porque inclusive a nossa protagonista nem se lembra mais das burrice deste pobre e guarda no peito apenas um sorriso apaixonado quando o assunto é Luiz Gepeto.



Joana Antunes

A partir de então Joana Antunes conservou o hábito de lavar a roupa do amor com as jasmins do quintal e estende-las na sacada para apreciar o voo dos lençóis enquanto, no seu apartamento vazio, fumava escondido o cigarro de sua solidão.


Sentada Joana Antunes lembrava dos amores contrariados, dos prazeres perdidos e não entendia porque merdas tinha chegado aquele extremo. O extremo de ser só. Como podia uma mulher dotada de conhecimentos encontrar-se assim, daquela maneira. De qualquer forma tinha a lembrança como uma companheira fiel. A verdade é que a vida de Joana Antunes a transformou em uma mulher nostálgica. Sentia falta de tudo, e o cheiro de jasmim lhe lembrava os amores da vida e a malícia infantil.


Durante a infância sempre fora a primeira a propor as brincadeiras de desafios pois sabia muito bem onde iriam chegar, de forma que quando completou dez anos já havia visto quase todos os meninos de Vila Rica. Joana nascera para o amor, porém aos quatorze descobriu os prazeres das partes baixas com os rapazes do mercado, e enganou-se pensando que aquilo era amar. Esse engano perdurou a vida inteira.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Holly Golightly

"Não ame nunca um bicho selvagem, sr. Bell", Holly o aconselhou. "Esse foi o erro de Doc. Sempre voltava para a casa com alguma coisinha selvagem. Um falcão de asa machucada. Até um lince crescido com pata quebrada. Mas não dá para entregar seu coração a um bicho desses: quanto mais você dá, mais forte ele fica. Até que fica forte o bastante para voltar para o mato. Ou para voar até uma árvore, depois para outra mais alta, depois para o céu. É assim que acaba, sr. Bell. Se a gante amar um bicho selvagem, vai acabar olhando para o céu"








"Ela está bêbada", Joe Bell me informou.
Bonequinha de Luxo, p. 66. Truman Capote

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires algum jeito de esquecer que ele pode ser feliz com alguém que não é você.



Caio Fernando Abreu


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Eu não tenho minha paz neste momento. Dói-me profundamente saber a que ponto cheguei. Eu te desejei. E você realmente me deu tudo que de melhor podia ter me dado, é tanto que eu não quis te perder por completo. E ainda não quero. Essas palavras agora podem ser de verdade, não precisam carregar suavidade, pois não são para você, são pra min.
Estou com o orgulho, com as mãos, com o rosto, com o coração feridos. Todos. Penso que podia ter mudado tudo, e não ter caído nos seus planos. Mas como me disse uma amiga, eu fiz o que me deu vontade. Sim, fiz. Desde que nos conhecemos, eu fiz o que me pareceu honesto com os recantos do corpo e os prazeres da alma, por isso fui ruim. Eu não pensei em você. Mas eu também não fingi, eu fui verdadeiro, eu fui. Todos os momentos. Mas não peço remissão dos meus erros. Errei por verdade, por desconhecer, e fui feliz com meu orgulho, e sou feliz agora mesmo com o dor de ser enganado.
Eu não te devo mais amor. Qualquer canalhice minha você apagou sendo o pior dos canalhas.
Tenho uma vida linda cheia de amor e de alegria. E podem me julgar as ovelhas santas, por que o meu pastor é diferente. É menos inseguro, menos fraco que os seus. Eu estou aqui clamando minha liberdade. E a sua.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado.

Gabriel García Márquez





domingo, 2 de agosto de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

Federico Garcia Lorca

Porque eu fui com o outro, eu fui!
Você também teria ido. Eu era uma mulher abrasada, cheia de chagas por dentro e por fora, e seu filho era um pouquinho de água de quem eu esperava filhos, terra, saúde; mas o outro era uma rio escuro cheio de ramos, que me trazia o rumor de seus juncos e seu cantar entre dentes. E eu corria com seu filho, que era como um menino de água fria, e o outro me mandava centenas de pássaros que me impediam de andar e que derramavam geada nas minhas feridas de pobre mulher consumida, de moça acariciada pelo fogo. Eu não queria, está ouvindo? Eu não queria. Seu filho era meu fim e eu não o enganei, mas o braço do outro me arrastou como a maré, como a cabeçada de um mulo, e teria me arrastado sempre, sempre, mesmo que eu fosse velha e todos os filhos de seu filho me puxassem pelo cabelo.



Eu também iria.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cante-se uma única canção.

Cantar não era com ele.
Nunca soube nada sobre afinação, nem a dos outros nem a sua. Descobriu não cantar com os amigos, sempre que cantavam "parabéns", alguém o olhava com reprovação. Não é assim, diziam. Também nunca teve ritmo. Era sempre a palma descompassada, atrasada ou acelerada no meio das mãos, mas nunca a certa.

Um dia cantando para um amor, ouviu um elogio. Você canta bem, disse. Não se sabe se o elogio foi de fato verdadeiro, ou foi um delírio de amor. Desses famosos por cegar e, possivelmente, nesse caso ensurdecer. Mas o elogio prevaleceu a qualquer teoria contraria. Feliz ficou. Entoou outras canções, mas com elas não vinham elogios. Cantou a mesma que cantou ao amor. E percebeu.

Era ela,a musica, que se vestia ao seu timbre. Não ele que com noções de voz cantava ela. A música cantava a sua voz. Por isso, só aquela melodia funcionava. Ele continuava ignorante, sem ritmo e desafinado. Agora era a música quem cantava ele, ela quem fazia o trabalho. A partir da descoberta passou a cantar a mesma canção.
Sempre.


As coisas foram mudando na sua vida.
Coisas ruins aconteciam sem saber por quê. Chuvas nas horas erradas, palavras confusas, ações incompreensíveis, tudo o fazia mal.
Por isso, parou de cantar.

No mesmo momento, as chuvas pararam, palavras foram esclarecidas e as ações compreendidas. Traumatizou.
E devaneando descobriu a razão do distúrbio.
Era a música, aquela que o vestia tão bem. As suas letras eram carregadas de confissões. De medo. E por um tempo ousou dizer, maldições. A música era maldita, dizia a si mesmo. Não voltou a cantar com a beleza de antes.
Nem aquela, nem as outras.

Quis o destino que a única melodia suave à sua voz fosse por motivos desconhecidos dona das artes de fazer mal, de mal dizer.

Ficou fadado por toda vida a não cantar, a manter-se calado inclusive nas rodas de parabéns.
olho os outros blogs.
olho o meu.




e me acho tão depressivo.

domingo, 28 de junho de 2009

a melancolia cabe em todos os nossos corações

Eu sou uma pessoa cheia de máscaras e preconceitos. E nós vivemos cansados; Nós, meus pés, meus olhos e meu coração. Por hoje não seja tão cruel comigo. Não me olhe assim. Nem fale bobagens. Dói. Ai, aquelas palavras de consolo que tanto me fazem falta e que poderiam muito bem substituir as suas, as de vocês. Queria poder ser assim como você livre e fascinante, mas as minhas máscaras são por demais pregadas nas minhas vísceras de escorpiano. E ai signo maldito que me fez acreditar poder sim haver lógica no que pronunciam os astros. A minha dor se pronuncia calada nas horas de felicidade.

A  verdade, meu bem, é que eu sou um ser inseguríssimo. Que sofre por demais o fato de não ser aquilo que sonha. E por mais que apague todas as chamas, todas as pequenas esperanças sempre há um maldito momento no qual me pego sonhando de novo. E, é essa esperança que me acaba, que me destrói. Quisera eu poder esquecê-la, ensopá-la num rio corrente de água fria. E viver, assim, uma vida menos como essa que me faz deixar aqui as palavras e escorregar no repouso e no consolo encontrado somente no sono do meu quarto.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

canto.

"Chora Manuel, não chora
ele chora porque não tem
o seu anel.
O anel entrou na roda
andando de mão em mão."

segunda-feira, 4 de maio de 2009

domingo, 12 de abril de 2009

Depois comenta comigo? Eu vou adorar, juro.

Estou apaixonado. Apaixonado. - é tudo que eu pude dizer ao assistir. Sempre fui apaixonado pelo cinema nacional, sempre defendi com o que pude defender, mas fazia um tempinho que o cinema brasileiro não me dava novas referencias de filmes bons. Até o convite que recebi depois de um almoço de feriado um tanto quanto conturbado. Vamos ver um filme. Vamos. Que emoção, fazia tempo que não viajava em um roteiro assim, nem no teatro. Deve ser por isso: O filme também fala de teatro. e de amor. De Tristão e Isolda. E tem um elenco de arrepiar, no sentido mais real possível, de arrepiar mesmo, de pelos eriçado. Temos Letícia Sabatella, Wagner Moura, Andréia Beltrão, José Wilker e tantos outros, não menos importantes. A história? A história, meus amigos? Vou dar a mesma sinopse que me deram, e que me deixou curioso. Fala de teatro e amor, e de que não dá de fazer teatro na horas vagas. Não dá mesmo. E também não dá para ver Romance nas horas vagas, não mesmo. Combine um horário, com o namorado, com a família, com os amigos, ou melhor com você mesmo. Não prepare pipoca e nada de refrigerante. Apenas assista, aprecie e se apaixone.


terça-feira, 7 de abril de 2009


Dificilmente escrevo textos longos, acho que sou um escravo das comodidades e do medo de escrever demais. Lembro que assim que iniciei o blog, escrevia com muito mais freqüência, podem ver se quiser, e como um movimento inversamente proporcional, o numero de visitas diminuiu cada vez mais as palavras postadas. Talvez seja aquele medo natural que temos. Que tenho. Costumava escrever sem nem imaginar que seriam lidos, hoje canso de escrever e apagar, escrever, achar ruim e apagar de novo, e por fim desistir. Gosto do ler os momentos nas palavras aqui postadas, e agora lendo alguns últimos postes leio pouco. Logo, escrevo pouco. Não me refiro ao quantitativo em ordens de palavras. Mas ao especial que me sentia ao lê-los. Também, acho que estou passando por um momento retardatário. Talvez. Sei lá.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ela andou sonhando.

.Disse. Lembra aquele sarau perto do DCE, em que tocou Los Porongas? Pois é, teve uma história que o reitor tirou todas as sinucas porque tinha gente transando em cima delas. E foi mesmo na hora em que o Diogo disse,Protesto contra o sumiço das sinucas, em uma universidade abrimos um mundo de novas experiências e transar em cima das sinucas é uma experiência ótiiiiiima. E que a galera vibrou, aêêêê. Que uns gostosos com cara e sotaque de britânicos vieram em minha direção me agarraram, e enquanto eu gritava, nãão, nãao, parem, vocês são lindos demais para min, eles me transportaram para o céu, meio que flutuando e fizemos sexo nas estrelas. Depois de gritos eloqüentes que faziam chover na noite. Durmi. Quando acordei estava na cama com o Johnny Deep.

Ufa.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Fabrícia {Não estou} diz:
Ei, vc largaria tudo para ir atrás do seu sonho junto comigo? Somente eu e vc?
AndréCezar diz:
eu não penso em outra coisa.

domingo, 1 de março de 2009

os seus, e nada mais.

Ele não entendia as teorias sobre jardins e borboletas. Achava aquilo uma baboseira na verdade. Talvez nunca conseguisse compreender o que aquilo queria dizer, se dissesse alguma coisa. Da mesma maneira que não compreendia, talvez nunca amasse. Sim, gostava dos beijos, das noites, da maneira como a lua sempre aparecia nos momentos de silêncio, mas não conseguia amar quase nada. Amava falar com casos antigos que já estavam rumo à Viena, amava seus tédios nos quartos. Amava as músicas que faziam sofrer os ouvidos. Amava seus sonhos. Ah, isso ele amava, de maneira egoísta até. Mas amava, verdadeiramente. Talvez essa fosse sua sina. Amar sonhos, e mais nada.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


A todos os ventos eu peço coragem.
A cada estrela e estrada
Ao mar que não morre nunca
eu peço coragem.
E ao sol e à lua
E a todo o firmamento.
A cada pássaro
A cada pedra
A cada bicho da terra e do ar
Peço coragem a tudo o que vive agora
E ainda viverá
Coragem para cavalgar os dias
Navegar nas horas
E a cada minuto e segundo Sonhar.
Na voz de José Mauro Brant.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

verdadeiramente triste.

E durante a noite inteira as lágrimas não secaram dos meus olhos.

Que o meu coberto me engula em um sono profundo, de águas claras e salgadas, e que ao acordar o sol não me deixe encontrar os olhos que amedrontam, somente veja com fundo azul-céu os olhares de reconforto, os poucos.

Menino Grande

e os meus metros de altura não significaram nada enquanto você cantava músicas sérias com a mesmo voz rouca das canções de ninar.

"E quando ela segurou a mão dele, não foi preciso olhar para ter certeza, ela estava do seu lado e o entendia como nenhuma daquelas mentes caladas jamais conseguiria."



Obrigado.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

inclusive amor.

Mamãe viajou e deixou-me apenas 3 pares de meias brancas e uma lista incontável de necessidades.