sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Um Grito Parado no Ar




GEORGETTE FADEL
atriz e cantora
Um Grito Parado no Ar
composta por Toquinho e Guarniere
uma das mais belas músicas de
 aberta resistência à ditadura de 64



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hiroshima: o documento da bomba atômica




A histórica foto da menina correndo nua com queimaduras no corpo, logo após uma bomba de líquidos inflamáveis ser lançada pelo exército norte-americano em um pequeno povoado chocou a opinião mundial, durante a Guerra do Vietnã em 1972 . A realidade da imagem trouxe contornos mais humanos para o olhar sobre o conflito e foi o estopim para que a população norte-americana pressionasse o fim da invasão. E, assim, aconteceu. Em 1973, o então presidente Richard Nixon assinou o acordo de paz entre os Estados Unidos e os vietnamitas.

Hiroshima do jornalista John Hersey é como esta foto. Também chocou e trouxe novos olhares para o assunto da bomba atômica. Teve enorme impacto pelo realismo; e como testemunho humano daquele acontecimento subverteu as opiniões sobre a corrida (energia) nuclear e o seu uso como material de guerra.

O que é, hoje, considerado por muito como a mais importante reportagem do século foi fruto de uma visita à Hiroshima um ano depois do ataque. Hersey, repórter enviado pela The New Yorker, conhecida pelo seu primor editorial e pelas grandes reportagens, colheu depoimentos de sobreviventes e apurou minuciosamente os efeitos do monstruoso cogumelo atômico.

Em 17 dias de imersão no Japão, elegeu seis histórias, que sob uma descrição objetiva retratam os acontecimentos durante e os efeitos, 40 anos mais tarde, do que seria chamado de o primeiro experimento de energia nuclear usado contra civis.

Sem quase nenhum adjetivo, os fatos acontecem em frases diretas. E aproximam a narração do ritmo real dos acontecimentos. O jornalista começa a reportagem, essencial para qualquer estudante de jornalismo literário, com a simplicidade de um lead. “No dia 6 de agosto de 1945, precisamente às oito e quinze da manhã, hora do Japão, quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima...”

Sabe-se que uma das premissas de misturar jornalismo e literatura é justamente esquecer o lead - jargão que tecnicamente identifica o início da matéria com as informações mais importante.  É nele, porém, que John Hersey se agarra para iniciar a viagem dos acontecimentos, a partir daquela manhã de 45.

O trabalho de Hersey é a prova da necessidade de unir o rigor jornalístico e a atmosfera ficcional.  O factual não poderia dimensionar o tamanho do ocorrido para o resto do mundo e, principalmente, para a população norte-americana.

Com 31 347 palavras, Hiroshima ocupou uma edição inteira da The New Yorker (salvo as páginas do roteiro cultural) e conseguiu esvaziar 300 mil exemplares das bancas de revistas em minutos. Algum tempo depois, a publicação estava à venda pelo triplo do preço no comércio informal.

A importância de Hiroshima está muito mais ligada ao seu papel em um momento histórico e a transformação do pensamento norte-americano do que pela escrita de Hersey, baseada na precisa descrição dos fatos. Assim como a desesperadora foto da menina com o corpo todo queimado, correndo nua no asfalto, Hiroshima é, talvez, o único documento sobre o uso das pesquisas nucleares contra civis. E, pela sua humanidade, como a foto, um documento mundial em defesa da paz. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

FROST/NIXON


Poucas vezes na história da política do continente americano ouviu-se um pedido de desculpas de um ex-presidente. Em 1977, três anos após o impeachment , Richard Nixon se desculpou, em uma série de entrevistas concedidas ao showman britânico David Frost. Porém, as declarações não saíram assim tão espontâneas. Existia uma divergência de interesses sobre as entrevistas: o ex-presidente via a oportunidade de reaver sua imagem com os EUA. E, para Frost, era a chance de dar ao entrevistado o julgamento que ele não teve.

Esta oposição, que resultou em um dos episódios mais memoráveis da TV americana, é o fio condutor do filme Frost/Nixon. Roteirizado por Peter Morgan, aquele de “A Rainha”, o longa-metragem traz os bastidores deste ringue. Frost era um apresentador de entretenimento, algo como o Gugu Liberato nas telas brasileira, que viu no projeto a chance de conquistar a credibilidade perdida. Sem muito cacife para enfrentar o “adversário”, ele convidou os jornalistas Bob Zelnick e James Reston Jr, este último nutria um ódio quase pessoal pelo ex-presidente. O time contra Nixon estava formado. A parti daí, uma pesquisa acirrada resultou em artifícios para colocar Nixon contra a parede.

Do outro lado, o ex-presidente acreditava que poderia manipular facilmente o entrevistador para melhorar sua imagem. E é de fato o que acontece durante as primeiras gravações. Porém, Nixon é surpreendido com as invertidas de Frost. O Caso de Watergate, a Guerra do Vietnã e o Impeachment são os temas de maior tensão durante as 30 horas de
material gravado. Por um momento, os floreios de Nixon perdem espaço para declarações como : “I let the american people down”. 

A batalha financeira de David Frost para conseguir a entrevista, os momentos antes e depois das gravações e as invertidas de ambos os lados para privilegiar seus interesses são pontos do roteiro que ganham notoriedade na direção de Ron Howard.

O ritmo do filme lembra o treinamento de dois boxeadores antes do ringue. O que torna a narrativa atrativa, dando ao clímax - o momento das gravações - a tensão necessária. Grande responsabilidade do sucesso fica a cargo dos atores Michael Sheen (Frost) e Frank Langella (Nixon). Ambos caracterizam os personagens de forma humana e densa, mas é Frank Langella que magistralmente subverte a imagem de político durão e corrupto para um homem maduro que sabe o tamanho do erro carregado nas costas.

Frost/Nixon é simples e denso. Um retrato ficcional de um episódio importante das entrevistas políticas no mundo, mas que não deixa a desejar pelas possibilidades da história ter acontecido como o imaginário de Peter Morgan quer.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Acorda, Maria Bontia



Para  Fabrícia Freire, minha bãozinha, 
uma visitante assídua  
deste blog e do meu coração de saudades.




"Se eu soubesse que chorando
empato a tua viagem
meu olhos eram dois rios
que não te davam passagem.

Cabelo preto anelado
olhos castanhos delicados.
Quem não ama cor morena 
morre cego e não vê nada"





/música escrita pelo cangaceiro Volta Seca do Bando Lampeão e gravada em 1957. Volta Seca, cujo o verdadeiro nome é Antônio Alves Souza, nasceu em Saco Torto, povoado de Itabaiana, Sergipe. Aos 12 anos,  entrou para o cangaço a convite do próprio Virguilino Ferreira - como se sabe -, o cabeça do bando de cangaceiros. 
Preso no início de 1932, um tempo antes da morte de Lampeão e seus companheiros de cangaço, Volta Seca foi levado para a Casa de Detenção da Bahia onde passou 20 anos preso. Ao sair, casou-se, teve sete filhos e recomeçou a vida através da música, sendo apoiado por nomes como Luiz Gonzaga. Esta canção se chama Acorda, Maria Bonita e tanto nela como nas outras composições de seu único LP, intitulado Cantigas de Lampião, existe tanta poesia quanto nos esforços de qualquer grande letrista brasileiros. "Se eu soubesse que chorando/ empato a tua viagem/ meus olhos eram dois rios/ que não te davam passagem." é demais para mim. Não existe outra pessoa para estes versos senão minha menina de cabelos pretos anelados e olhos castanhos delicados. Bão. 



  

terça-feira, 13 de setembro de 2011










e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.

Drummond 

domingo, 28 de agosto de 2011


Água do meu Tietê. Onde me queres levar? - Rio que entras pela terra. E que me afastas do mar...
Estou doente. Doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até. Eu quero um punhado de estrelas maduras, eu quero a doçura do verbo viver. O Sol entrado. Seu olhar é cantiga antiga no meu ouvido. O sol de tua boca. E o dia não tem minuto que estar contigo não queira. Se interesse por mim e pergunte o que eu sei...me dê aquilo que eu  não tenho há quase um ano: carinho. De um jeito que eu não sei dizer como é,mas há  por aí; ou pelo menos já houve. Cavalo solto a passear no coração de quem ama. Vai-te Ignácio, mas morre também o mar. Garoa do meu São Paulo – timbre triste de martírios – um negro vem vindo, é branco! Só bem perto fica negro, passa e torna a ficar branco. Meu São Paulo da Garoa – Londres de neblinas trsiste – Garoa do Meu São Paulo – Costureira de Malditos. A poesia é para comer. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Não devolva o Neruda...

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim 

A segunda é ver o outono 
A terceira é o grave inverno 
Em quarto lugar o verão 

A quinta coisa são teus olhos 
Não quero dormir sem teus olhos. 
Não quero ser... sem que me olhes. 
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda


é nosso, entendido?

domingo, 10 de julho de 2011

Abyss




There are places and people like abyss in front of me. I want to jump but there is a foot stuck. Is it to have, they say. I hope...

quarta-feira, 29 de junho de 2011


Nós acrobatas...

Os Acrobatas

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

Vinícius de Moraes

Ao amigo que me fez lembrar de subir alto e a quem, agora, eu ofereço.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Documentário sobre o cineasta Marcos Jorge

Se existe uma promessa para o cinema nacional, sem dúvida, Marcos Jorge é uma delas. Seu primeiro longa lançado em 2007 representa muito de sua linguagem e revela por que ele figura no patamar das apostas brasileiras para as artes.

Estômago é um longa-metragem que conta a história de Alecrim, um imigrante nordestino que vai para São Paulo. Lá, (ou aqui, sei lá) ele começa a trabalhar na cozinha de um boteco. Inesperadamente, as coxinhas feitas por ele tornam-se sucesso. Logo depois, ele é contratado para um restaurante italiano. Só que a história não se basta nisso. Paralelo a descoberta do talento culinário de Alecrim, o público também descobre um Alecrim encarcerado que literalmente pega as pessoas pelo estômago. Revelando um  jogo de poder na prisão que é estabelecido - no caso dessa personagem - pela comida.

Entre o Alecrim do restaurante e o da prisão, a diferença e as semelhanças vão aparecendo no decorrer da história.  Não é preciso nem dizer que o êxtase do filme é o momento em que se descobre o que liga os  dois momentos da vida do protagonista.  Existe um ar quase Almodóvar nas cores fortes e nas personagens surpreendentemente humanas.

Ok. Paro por aqui. Não é só por Estômago que escolhemos Marcos Jorge para ser o objeto central das nossas lentes documentais. Existe nele e na sua história uma fórmula verdadeira de artista. Uma inquietação e uma vontade que nos contagiou e transformou esse projeto no nosso objetivo durante alguns meses. O produto final não é tudo que queríamos dizer, mas serve como piloto das nossas ideias e linguagens.

Assistam, não sem antes ligar o botão da crítica  e soltar tudo em comentários depois.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Marcha pela Liberdade

Em tempos onde a nossa própria história é ameaçada por peças como José Sarney, que mandou excluir o processo de impeachment do Collor da galeria Túnel do Tempo, no Eixo Monumental, em Brasília,  é preciso lutar também pela liberdade da história brasileira.

Sarney justifica-se dizendo que “o episódio não devia ter acontecido”.

Eu marcho pela memória brasileira.






E pela saudade dos  meu amigos acreanos...

domingo, 12 de junho de 2011

A história de Antônio Chrysóstomo

CASO CHRYSÓSTOMO
O julgamento de um preconceito pela sociedade "progressista"

Existe um pedaço da história da imprensa canalha que eu preciso reiterar.

Jornalista Antônio Chrysóstomo
Antônio Chrysóstomo foi um jornalista e crítico de arte bastante conhecido no Brasil da década de 70. Fez parte do conselho editorial da primeira publicação brasileira dirigida aos homossexuais, o jornal Lampião de Esquina, e destacou-se no jornalismo como crítico de música popular brasileira. Antes de trabalhar na imprensa alternativa, passou por grandes veículos de comunicação como o jornal O Globo e a revista Veja – que, mais tarde, exerceria papel fundamental no caso com falsas acusações.

Em 1979, Chrysóstomo adotou uma menina de três anos de idade, chamada Cláudia, que vivia mendigando na rua com sua mãe. Ela era encontrada na porta da redação do Lampião de Esquina, onde o jornalista trabalhava na época. Um ano depois da adoção, ele foi denunciado pelas vizinhas do prédio e pela empregada por ter maltratado e estuprado a menina. 

Edição do Lampião de Esquina, primeiro
periódico brasileiro destinado
aos homossexuais 
Com a denúncia, formou-se uma espécie de Comitê de Caça a Chrysóstomo, que inclusive levou o jornal Lampião a sofrer intensas ameaças. Pouco depois, a menina foi retirada da custódia dele e levada para a Fundação Nacional do Bem-estar do Menor, onde passou a viver, desde então. 

O juiz pediu que Cláudia fosse examinada e os médicos legistas constataram integridade do hímen. Ainda assim, ele foi indiciado em processo criminal. A imprensa explorou o caso com sensacionalismo. O jornal “A Luta” do Rio noticiou que Chrysóstomo teria sido preso. No dia seguinte à falsa notícia, ele recebeu ordem de prisão preventiva. O seu trabalho no jornal Lampião foi usado como argumento para sua prisão. Uma matéria na Veja cria um perfil perverso do jornalista usando hipóteses como fatos. O texto diz que o jornalista promovia orgias sexuais em casa e chegara a ficar 48 horas seguidas num bar sentado sobre suas fezes e urina.

A Folha de S. Paulo, jornal tido como um dos mais liberais do país, se recusou a dar matéria dando voz ao acusado. E o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro hesitou muito até fornecer à Justiça um atestado de que ele exercia a profissão havia mais de vinte anos. A imprensa ainda acusou a militância gay de aproveitadora e o Sindicato dos Jornalistas de irresponsável pela mobilização em defesa ao acusado. O Sindicato só defendeu Chrysóstomo frente a falta de comprovação das acusações.

Capa da edição 679,  da revista Veja,
 com a matéria de Chrysóstomo.
Depois de montada a história, a imprensa e a justiça brasileira ignoraram alguns fatos. Como o relatado por João Silvério Trevisan, no livro Devassos no Paraíso, onde uma das primeiras testemunhas, chamada para reiterar o caso, pediu desculpas, chorando, e disse que tinha sido forçada a mentir por um consenso das vizinhas, que o queriam fora do prédio. Um dos motivos para tirar Chrysóstomo do prédio era que ele fazia festas onde não se ouviam vozes de mulher. 

É preciso abrir um parênteses para um fato importante do Caso Chrysóstomo:  o Brasil vivia um momento de abertura política, e os “progressistas” – podemos incluir aí a imprensa da época - foram os que mais perseguiram o caso de forma irresponsável. Isso denuncia um movimento que se diz progressista e liberal, mas que age de forma contrária ao discurso. Um pouco o que a imprensa atual continua a fazer, não assumindo publicamente posições e se escondendo atrás de um discurso que só faz perpetuar, através das notícias, seus interesses próprios. 

Por fim, Chrysóstomo ficou alguns anos preso, condenado por atentado ao pudor, por maus-tratos a menor e por periculosidade social. Em 83, depois de cumprir parte da pena, ele foi julgado em segunda instância e considerado inocente. A alegação foi de que o julgamento anterior baseava-se não em provas mas em conjecturas. Quando saiu escreveu um livro sobre sua história, chamado Caso Chrysóstomo: O Julgamento de Um Preconceito. Dedicou o livro à menina Cláudia, que nunca mais viu. Morreu logo depois do lançamento de sua história. Até hoje, nenhuma retratação da imprensa.

domingo, 15 de maio de 2011

.

Aqui onde os prédios colocam o céu em corredor os sentimentos escapam ao controle dos dedos. É capaz de sentir-se indiscutivelmente alegre à tarde e ao entardecer ser tomado por dores florais que alugam o estômago por temporadas indefinidas. À noite volta-se a ser feliz. E de manhã vem outra sensação, da qual a definição não se sabe, mas traz saudade. Felicidade. Tristeza. Alternando. Um choque térmico na alma. Mas a felicidade vem sempre nos calcanhares da saudade. Nunca depois da tristeza. Fica-se bem, mas existe uma saudade de ser feliz.










Nos prédios antigos do Centro de São Paulo

terça-feira, 10 de maio de 2011

MAR



MEU CORAÇÃO é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...

No movimento ( eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?...

Álvaro de Campos.  F.P. e Artur Mattar

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ganhar Doces aos Poucos

                                                                                       Sim, sem dúvida é histórico. A união estável guei, legislativamente falando, agora é possível no Brasil. Com ele todas as vantagens burocráticas como herança, adoção e, nada mais justo, o divórcio.  Não vejo muito além. Sou jovem. Casar não me passa pela cabeça nesse estágio, por isso não sinto a vibração que, tenho certeza, pulsa no peito de muitos. Mas sinto-me contemplado pela alegria alheia, que de alguma forma (direta, futura) também contemplará meu peito.
       Porém, as dificuldades não param por aí. A abertura desses direitos abre também sentimentos enrustidos em peito alheio, peito que por felicidade reprimida, reprimi, oprime, mata. Vivemos uma vitória e temos que nos preparar para as consequências. O mundo não muda hoje. Data histórica. É um processo. É todo dia, como diz um amigo. Todo dia é uma militância ser quem você é por direito de nascer assim.
        
     O exercício contínuo de ver beleza na sua força para encarar todo dia o olhar de lado, a fala de deboche, o não poder beijar na rua, o medo. Casamentos já aconteciam sem precisar de leis.  Teremos também que esperar a homofobia parar de acontecer, “passar” para tê-la proibida em letras oficiais. Vai demorar! Muita gente vai sofrer. Tudo bem! Não vamos parecer os insatisfeitos! Os insaciáveis!  Escrevo para compartilhar a felicidade de ganhar doces aos poucos. Primeiro uma bala para as crianças da rua, coitadas, um dia talvez um bolo inteiro.... 


Golpe do Baú....