segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A bunda que engraçada


A bunda, que engraçada. 
Está sempre sorrindo, nunca é trágica. 

Não lhe importa o que vai 
pela frente do corpo. A bunda basta-se. 
Existe algo mais? Talvez os seios. 
Ora – murmura a bunda – esses garotos 
ainda lhes falta muito que estudar. 

A bunda são duas luas gêmeas 
em rotundo meneio. Anda por si 
na cadência mimosa, no milagre 
de ser duas em uma, plenamente. 

A bunda se diverte 
por conta própria. E ama. 
Na cama agita-se. Montanhas 
avolumam-se, descem. Ondas batendo 
numa praia infinita. 

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz 
na carícia de ser e balançar. 
Esferas harmoniosas sobre o caos. 

A bunda é a bunda,
redunda.


              Carlos Drummond de Andrade