terça-feira, 25 de setembro de 2012

Visitar a Lapa depois de tê-la encontrada decaída e assombrada no livro Lábios que Beijei, de Aguinaldo Silva, é como retornar a um território que já foi seu.
Os arcos são meus. Essas ruas e esses mendigos, que antes foram os maestros das mesmas ruas, são conhecidos antigos e me cumprimentam como rainha. 

A Lapa, charmosa, guarda solta nas ruas seus inúmeros alemães – reis do crime e temidos por todos; são tantos. O Aguinaldo de antes não aguentaria(acredite!)
Continuam a surrupiar e deixar doidos os aguinaldos, a tal ponto que se integrem carnalmente ao sistema. Para não repetir! Não repetir! 
E são tantos aguinaldos...

Os telhados continuam sendo pulados por bandidos e amores... Débora aparece atravessando a rua, usa um cachecol, rasteiras e uma saia. Quem a vê, sabe que outrora fora um executivo descendo de taxi, que outrora fora uma bichona, que alçava voos.

Aqui as pessoas gritam quando não é assalto. Riem alto e são corteses quando a moça passa e repassa, enganada, com as rosas de seu vestido... Se acredito em entidade é porque estou na Lapa. Aqui os estrangeiros tecem seus vestidos com lenços hermès.

As moças tem braços fortes e falam escorregando a língua, preguiçosa, nos dentes inferiores. A água de suas bocas escorre, veemente, pelas encostas dos dentes e é interrompida pelo lustre grosso dos lábios. 

As janelas altas dos prédios antigos olham tudo; a vigiar que o mundo não acabe com a Lapa. E, assim, os desvalidos não fiquem sem calçadas para dormir, gringos para impressionar e esquinas... para que uma escritora deposite, suavemente, sua máquina de escrever.

Um comentário:

RICARDO AGUIEIRAS disse...

Lindo... nunca fui na Lapa carioca, apesar de já ter ido ao Rio várias vezes...talvez por falta de companhia ou medo, o Rio que me recebeu tão grandiosamente nos anos 60 não foi o mesmo Rio que me recebeu em 2000, bem mais frio. Uma coisa sempre admirei é que aí se preserva mais a História, aliás, se tropeça nela à cada minuto. Infelizmente, em Sampa não. Sampa já derreteu. Teus textos são pura poesia.
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br