
Com Duchamp nasceu a idéia de que uma obra só
está completa quando a ela se
soma a interpretação do outro — no caso, o
espectador. O maior artista do século
20 chegou a usar a expressão “arte
retiniana” para definir as criações de seus
antecessores, voltadas para a
pura admiração da imagem captada pelos olhos. Ele
não se contentava mais em
jogar apenas com a visão: estimulava uma verdadeira
troca intelectual com o
admirador de suas peças.Ele não desejava levar arte às massas nem
beleza ao cotidiano. Estava interessado em pensar, e pensar com companhia. O
mais claro e contundente convite de Marcel Duchamp nesse sentido são os
ready-made. Ao tirar um objeto comum de seu contexto usual e elevá-lo à
categoria de arte, ele anunciava ao mundo: a habilidade manual do artista já não
basta para definir uma obra. Na nova realidade, tomada pelas mais diferentes
possibilidades de reprodução, o pensamento do autor por trás de seu trabalho —
enfim, a sua idéia — se torna o mais importante.Instalar, portanto, uma roda de bicicleta sobre
um banco era um jeito de fazer com que o espectador deixasse de vê-la como parte
da bicicleta e passasse a admirá-la por seus contornos — e só. A escolha do
objeto que sofria esse deslocamento partia do artista, e isso ganhava
valor.
Recomendo-vos BRAVO! ,
e o quanto quiserem de Marcel Duchamp.