tag:blogger.com,1999:blog-7165394825415298197.post8607802283509321803..comments2023-05-15T00:51:06.269-07:00Comments on ausência é flucxso: A razão de estar aquiUnknownnoreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-7165394825415298197.post-34757518741877433522011-08-11T12:06:45.004-07:002011-08-11T12:06:45.004-07:00viva vó creuza!!!! "o homem é o que tem nas m...viva vó creuza!!!! "o homem é o que tem nas mãos"Artur Mattarhttps://www.blogger.com/profile/08851800011633094718noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7165394825415298197.post-22283537462994157622011-07-20T20:21:02.258-07:002011-07-20T20:21:02.258-07:00Este retrato de família
Está um tanto empoeirado.
...Este retrato de família<br />Está um tanto empoeirado.<br />Já não se vê no rosto do pai<br />Quanto dinheiro ele ganhou.<br /><br />Nas mãos dos tios não se percebem<br />As viagens que ambos fizeram.<br />A avó ficou lisa, amarela,<br />Sem memórias da monarquia.<br /><br />Os meninos, como estão mudados.<br />O rosto de Pedro é tranquilo,<br />Usou os melhores sonhos.<br />E João não é mais mentiroso.<br /><br />O jardim tornou-se fantástico.<br />As flores são placas cinzentas.<br />E a areia, sob pés extintos,<br />É um oceano de névoa.<br /><br />No semicírculo das cadeiras<br />Nota-se um certo movimento.<br />As crianças trocam de lugar,<br />Mas sem barulho: é um retrato.<br /><br />Vinte anos é um grande tempo.<br />Modela qualquer imagem.<br />Se uma figura vai murchando,<br />Outra, sorrindo, se propõe.<br /><br />Esses estranhos assentados,<br />Meus parentes? Não acredito.<br />São visitas se divertindo<br />Numa sala que se abre pouco.<br /><br />Ficaram traços de família<br />Perdidos no jeito dos corpos.<br />Bastante para sugerir<br />Que um corpo é cheio se surpresas.<br /><br />A moldura deste retrato<br />Em vão prende seus personagens.<br />Estão ali voluntariamente,<br />Saberiam – se preciso – voar.<br /><br />Poderiam subtilizar-se<br />No claro-escuro do salão,<br />Ir morar no fundo dos móveis<br />Ou no bolso de velhos coletes.<br /><br />A casa tem muitas gavetas<br />E papéis, escadas compridas.<br />Quem sabe a malícia das coisas,<br />Quando a matéria se aborrece?<br /><br />O retrato não me responde,<br />Ele me fita e se contempla<br />Nos meus olhos empoeirados.<br />E no cristal se multiplicam<br /><br />Os parentes mortos e vivos.<br />Já não distingo os que se foram<br />Dos que restaram. Percebo apenas<br />A estranha ideia de família<br /><br />viajando através da carne.<br /><br /><br /><br />Carlos Drummond de AndradeRodrigo Mercadantehttps://www.blogger.com/profile/00426600525295507759noreply@blogger.com